sexta-feira, 5 de março de 2010

Mãos sobre ouvidos


Ouça a chuva,
Os riscos d’água que se lançam dos precipícios,
Nos suicídios mal interpretados.

Ouça a chuva
Por detrás dos vidros
E tente não ouvir os gritos
Das gotas que se desfazem
E se afogam nos seus íntimos prantos.

Cada gota é um mar de canto,
Do lamurio das estrelas,
Que além das fronteiras
Sucumbem em explosões cósmicas.

Olha, vê além da vidraça,
E veja o sorriso sem graça
Das gentes carpideiras,
Dos que levam consigo todo o pranto
Dos nossos mundos prontos
E cômicos.

26/02/2010

Brincando de roda


Um pedaço de tempo, com limites de vento,
É aquele em que padeço
Sorrindo
Juntinho às gentes.

Na passagem do passageiro
Arranjo laços com os entes
(Que não me pertencem)
Em cujas extremidades
Não há assertividade.

Não existe minha vontade,
Somente submissão
Àquele que puxa o cordão
Desfazendo o laço,
E nos estanca de repente,
Sem rastro de suavidade.

A roda é assim mesmo,
Não me surpreende.

Quando uma mão se solta,
Outra se apresenta prontamente.

Até que na fronteira
Eu me canse, permanentemente,
Da brincadeira.

01/03/2010

Rumores


Aquele que força um sorriso
Esboça o compromisso
Com as luzes do mundo.

As luzes são signos,
Sinais da terra estrangeira,
Logo ali, logo além da beira
Do precipício.

Aquele que cede ao choro
Se junta ao grande coro
Das sombras do mundo.

As sombras são justos desaforos,
Sinais da terra estrangeira,
Logo ali, logo além da beira,
Ao centro do poço.

Luz e sombra são causa e efeito,
Plenitude e defeito.

São eternas
Setas.

01/03/2010

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Remindo o tempo


Dispenso uma janela de tempo
Ao silêncio da intermitência
Entre as gotas
Das telhas brancas.

Cada gota queda
Ao seu íntimo gosto
Na expressão do bel-prazer
Das efemeridades
Instantâneas.

Do toque da gota na poça
Emana dispersão de essência
Partindo do centro do enlace
Aos contornos das extremidades.

É lindo de presenciar
A circular nuance
Se esvaindo aos limites distantes
Dos liquefeitos vapores!

Cada suave crina
Abraça os círculos
Prévios, sucessivos,
Posteriores.

A canção continua como sina,
Em imprevisível sequência.

E o tempo é sempre escasso.
Como no presente caso
Sua ciência.

15/01/2010

A estrela lá das tantas


De madrugada me levanto às tantas
E ouço somente o som do ermo
E do vento que o preenche.

Levo meus olhos acima do monte,
Através do basculante do quarto,
E acho a estrela distante,
Cintilante bailarina espelhada.

A estrela solitária saúdo
Com o sorriso de lua cheia
E mareio os olhos por instinto.

Tudo no instante cheira
A hortelã e a geada
E a bailarina flutuada
Aguarda a hora certeira do sorriso.

Madrugada de gelo,
Degelo e gente dormindo.
Logo, logo se abre a aurora;

E tudo que nos resta agora
É o desejo que sorrindo esteja
A brilhante estrela cuja luz foi embora.

21/01/2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A Taça


Quero essa taça.
Essa de puro cristal, cheia de líquido víscido,
Espumante, que extenua olhares fluidos.

Deixa-me deslizar o dedo pela tez da taça
E desenhar formas inexistentes, inusitadas,
Ao remover as gotículas condensadas
Dos vapores do ar.

Deixa-me inclinar levemente a taça
E, delicadamente, pender seu líquido,
Perder o equilíbrio, apreciar as leves bolhas que ascendem
À dispersão.

Deixa-me sorver cada gota dessa bebida,
Que os loucos sacia,
Só os doidos inebria,
E os de dupla alma embriaga.

Deixa-me beber da taça de sonhos improváveis,
Dos devaneios irrealizáveis,
Que somente nas esferas poéticas
São satisfeitos
E satisfazem.

21/12/2009

2016


Pira a pira / Pirapora
Pororoca / Tora.

Pira apita / Pira afora
Pira vinda / Torra.

Gira Olimpo / Carioca
O não gringo / Chora.

Zeus sorrindo / Porca engorda
E o Cristo / Sangra.


06/01/2010